sábado, 14 de maio de 2011

Crônicas

Comer que nem um condenado tem lá suas vantagens. É uma mistura de gula com praticamente um orgulho sexual mais demorado que uma relação em si. É coisa de gordo, mas vamos convir que a melhor parte de comer até a comida começar a cair no pulmão é apenas o 'durante', jamais o 'antes' e muito menos o 'depois'.

O 'antes' é uma forma de tortura medieval, onde você sabendo que vai num Porcão às 15h se recusa a comer qualquer coisa e pra não morrer come um Danoninho e meio pão de forma só pra não ter que ir pra lá no soro. A experiência anterior que tive foi num rodízio de petiscos onde me recusei a comer e fui em jejum. Não deu 1 hora e já tinha vomitado no banheiro do Comida à Mineira [2x] e depois um combo de vomitada estilo Aretuza Squirtle + diarreia no banheiro de deficientes do Botafogo Escada Shopping [1x]. Ao mesmo tempo.

O durante dispensa comentários. O 'depois' que é o fail. O 'depois' de comer feito um condenado é pior que um pós transa, onde você fala qualquer merda e finge que não estava fazendo nada demais. O 'depois' deste caso não te permite sequer pensar \ respirar \ organizar ideias para falar qualquer coisa. Até porque falar depois disso dá uma sensação de tristeza e mal estar e você acaba pensando em encontrar sua amiga Mia, coisa que nunca cheguei perto de fazer.

Essa sucessão de fatos te leva invariavelmente a pensar na vida. Não sei vocês, mas o pós comida [não pós sexo] te leva a refletir sobre suas condições como ser humano. Particularmente, embora você tenha vontade de morrer numa situação dessas ou ter dificuldades de transformar O² em CO², é uma ótima hora pra você pensar no que está fazendo de errado ou ineficiente na sua vida.

Mais uma vez, não sei vocês, mas essas reflexões combinam com a volta pra casa. E tem que ser com toda uma parafernalha ímpar: voltar de 457.

Sair do Porcão e voltar de 457 pra casa é como sair do luxo ao lixo. Ou do céu ao inferno pro galerê religioso. Minha concepção de céu é eu ficar a eternidade num quarto com ar condicionado bebendo refrigerante sem parar e sem encher direto e quando me desse fome vir uma anja de biquíni me entregar uma pizza. Da mesma forma, minha definição de inferno é um 457 gigante, infinito e lotado circulando pela Zona Sul \ Norte fluminense e jamais chegando ao seu final.

Andar de ônibus de noite e ainda mais nessa noite fria pra mim é algo sublime [ok, mesmo sendo um 457], onde você bota a cabeça no vidro [e ela fica quicando até você ter um AVC ou traumatismo craniano] e enquanto o ônibus vai andando você vai pensando em tudo que anda fazendo por aí e tudo que você espera que aconteça há tempos e há tempos não acontece.

E tudo isso por causa de uma gula desgraçada. Amanhã é outro dia, talvez tudo volte ao normal e eu não tenha que andar de ônibus pela cidade à noite. E vou torcer também pra, caso eu tenha que andar novamente, não saia do mundo da lua e me ligue que perdi meu ponto apenas dois pontos depois de onde eu deveria ter saído.

2 comentários:

  1. Curti essa limonada.
    Especialmente a parte da "cabeça quicando no vidro até você ter um AVC ou traumatismo craniano".

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